terça-feira, 22 de julho de 2014

O Tempo entre Costuras, María Dueñas - Opinião

"O Tempo entre Costuras" de María Dueñas
Sinopse: "O Tempo entre Costuras" é a história de Sira Quiroga, uma jovem modista empurrada pelo destino para um arriscado compromisso; sem aviso, os pespontos e alinhavos do seu ofício convertem-se na fachada para missões obscuras que a enleiam num mundo de glamour e paixões, riqueza e miséria mas também de vitórias e derrotas, de conspirações históricas e políticas, de espias.

Um romance de ritmo imparável, costurado de encontros e desencontros, que nos transporta, em descrições fiéis, pelos cenários de uma Madrid pró-Alemanha, dos enclaves de Tânger e Tetuán e de uma Lisboa cosmopolita repleta de oportunistas e refugiados sem rumo.

Opinião: María Dueñas relata com uma veracidade ímpar um período importante da história de Espanha e que, muitas vezes, é esquecido, pelo menos para os espanhóis que partiram de África onde tinham as suas vidas... num paralelo com a nossa própria história, recordando os expatriados das colónias portuguesas. Mas se este cenário não entra neste livro, Lisboa sim aparece nas suas linhas... a sua beleza e a sua promessa (ainda) de liberdade e também a fixação de ingleses endinheirados na linha do Estoril/ Cascais que durou até aos nossos dias, em certos casos, e ainda que não em muitos a zona continua a ser muito procurada e habitada por pessoas com um determinado poder económico.

Mas voltemos à história de Dueñas... a autora descreve com mestria a rebeldia de Sira e a sua paixão fulminante que leva a que não veja que está simplesmente a ser usada. Pelo homem que a arrebatou, concorda abandonar Madrid e a sua mãe, a sua única família, para ir para Marrocos. Aqui, ela conhece os salões de festas e hotéis de luxo até ao dia em que acorda sem nada... e com uma conta de hotel por pagar... Sira não vê outra alternativa senão fugir.

Sira descobre rapidamente que o luxo de nada lhe serviu e o que queria era estar de volta na sua Madrid mas também aí pendia sobre ela um mandato de captura por roubo de património do pai na sequência de uma queixa de um dos irmãos ao descobrir a generosa oferta entregue à jovem... sem saída ela esconde-se numa pensão de ar barato, onde passa a ajudar nas limpezas e a remendar o pouco que por lá existe. A reviravolta na sua vida acontece quando descobrem que ela costura muito bem e todas as vizinhas passam a fazer-lhe encomendas. Mas a dona da pensão vê mais longe, com o dinheiro dela e a mão para a costura de Sira, poderão abrir uma loja de modista e receber as mais afortunadas senhoras que pagarão muito bem pelo talento de Sira, que se tornará, com toda a certeza acreditam, a melhor modista deste enclave espanhol.

As cores e cheiros de Tânger e Tetuán entram-nos pelas narinas e balançam o nosso olhar, ao mesmo tempo que sentimos com Sira os suores frios de cada vez que tem de fazer algo perigoso que foge aos seus hábitos e até talvez ao seu país...

Da aventura para o dinheiro para a loja ao contrato para espia pelo polícia que um dia concordou não a prender, Sira cresce como personagem e como mulher. Torna-se mais madura, sem medo de enfrentar a vida, não teme falhar onde outros poderiam fazê-lo e não foge do que pode ser um perigo. Mas Sira passa a contar também com bons amigos e tudo o que pede é que lhe tragam a mãe já depois das viagens terem sido cortadas... e é nesse esforço conjunto entre ela e a amante de uma alta patente que considera estar "na sua Marrocos feliz" que Sira vai conhecer um homem com quem se virá a cruzar novamente... e um dia a vida de Sira estará nas suas mãos... sem que ela própria o saiba... chegará Sira novamente a Madrid? E se chegar, qual será o custo de voltar à capital?

Um livro que mostra bem que um dia se pode estar no lugar mais alto e ter muito poder e no dia seguinte vir a ser acusado e morto ou exilado, perdendo tudo o que se tinha construindo.

Este é um bom livro para aprender sobre este período especifico de Espanha ao mesmo tempo que se percebem cores e dores próprias de quem viveu aquele momento e não apenas o que a propaganda queria difundir. É também um livro denso, que pede para ser lido pausadamente pois tem de ser digerido.
4*

Sem comentários:

Enviar um comentário